Um mosquito e três doenças: O risco do Aedes Aegypti

POR Angélica Mota e Anneli Rodrigues

O mosquito Aedes Aegypti causador de doenças (Arte: Pedro Nascimento)

A Dengue, a Chikungunya e a Zika são doenças transmitidas pelo mesmo mosquito: Aedes Aegypti. Elas se agravam principalmente no período das estiagens e chuvas de verão.  Mas a coincidência dos sintomas é um problema.

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) nas Américas, além de o vírus ser detectável somente por alguns dias no sangue das pessoas infectadas, os sintomas de Zika são muito semelhantes aos da Dengue e da Chikungunya, dificultando o diagnóstico médico. A Opas chegou a decretar emergência internacional em saúde pública em razão do avanço das doenças transmitidas por vetores, como a dengue, febre amarela, malária e esquistossomose, leishmaniose, doença de Chagas e peste.

Originário do Egito, na África, o mosquito Aedes Aegypti foi registrado como transmissor da Dengue, pela primeira vez no mundo, no período colonial, por meios de navios que traficavam escravos. No Brasil, os primeiros relatos se deram, na cidade de Curitiba (PR), entre o fim do século XIX, e início do século XX, em Niterói (RJ). A partir daí os casos não pararam de aumentar. Entre 2015 e 2016 apareceram outras doenças originadas do mesmo mosquito: a Chikungunya e a Zika.

Vale ressaltar que essas doenças são consideradas de notificação compulsória. Portanto, cabe à Secretaria de Vigilância em Saúde, em consonância com o Ministério da Saúde, apresentar para a sociedade o Levantamento de Índice Rápido para o Aedes Aegypti (Liraa). Por meio do levantamento, é produzido o Boletim Epidemiológico. Nesse boletim é possível ter acesso a todas as informações de ocorrência e confirmação das doenças, como a Dengue, Chikungunya e Zika.

Segundo o boletim epidemiológico do Ministério da saúde divulgado, foram registrados em Sergipe, de 30 de dezembro de 2018 a 23 de março deste ano, casos prováveis, incidência e óbitos de Dengue, Chikungunya e Zika.

Na tabela abaixo, podemos verificar dados registrados.

Arte: Pedro Nascimento

Para Jeferson Santana, supervisor de endemias da Secretaria Municipal da Saúde de Aracaju (SMS), afirma que a proliferação das doenças ocorre durante todo o ano, porém no período de verão, ocorre com maior intensidade por causa das altas temperaturas. “O desenvolvimento do mosquito fica curto, em função da saída do ovo se transformando em adulto. Além disso, é um período em que a cidade recebe muitos turistas e também as pessoas viajam bastante, deixando recipientes com água dentro de casa, mas a situação se agrava pelas mudanças climáticas”, explica.


Assim, o supervisor faz uma alerta à população, o quanto é importante que cada pessoa faça a sua parte para se prevenir dos riscos de proliferação causado pelo mosquito transmissor. Ouça trecho da entrevista com o supervisor de endemias, Jeferson Santana: 



A secretaria promove um trabalho de conscientização para a população, no sentido de amenizar e orientar sobre os graves problemas causados por essas doenças. Assim são desenvolvidas ações preventivas na comunidade escolar, com o Programa Saúde nas Escolas (PSE) e o Projeto Canto Limpo (PCL).  Também são feitos mutirões e palestras em parceria com a Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb) – principalmente em alguns lugares que registram maior índice de proliferação do mosquito transmissor.

Jeferson Santana, supervisor de endemias da Secretaria Municipal da Saúde de Aracaju. (Foto: Daniella de Oliveira)

A agente de endemias Jucineia dos Santos faz um alerta para a população quanto ao criadouro do mosquito, pois embora a visita seja feita de dois em dois meses, ainda são encontrados os focos nas mesmas residências. “A gente pede que todos os cuidados necessários sejam cumpridos para que não ocorra a proliferação do mosquito, como não deixar água parada em plantas. Já que essas doenças podem deixar sequelas ou levar a morte”.

Ela ressalta ainda que a área que trabalha enfrenta certas dificuldades pelo fato de existirem pessoas relapsas nas comunidades, principalmente em função da baixa escolarização, o que atrapalha a eficácia de um trabalho prolongado. 

Desse modo, a agente pede que todos os cuidados necessários sejam cumpridos para evitar a proliferação do mosquito, como é o caso de não acumular água parada em pneus e garrafas. "Quando é encontrado o índice alto de foco do mosquito, a secretaria faz um monitoramento indicando cada área que deve ser visitada pelos agentes, no intuito de bloquear toda infestação do mosquito”, relata.

A agente no combate ao mosquito Aedes aegypti. (Foto: Arquivo pessoal)

AEDES AEGYPTI: VOCÊ PODE EVITAR?

Uma das formas de se evitar a proliferação do mosquito Aedes Aegypti, transmissor da Dengue, Chikungunya e Zika, é fazer com que a sociedade se conscientize das consequências que essas doenças causam. Assim, é importante que cada um faça a sua parte começando por pequenos gestos, como retirar todos os pneus que ficam a céu aberto, bem como não deixar água parada em vasos, já que o mosquito põe seus ovos em água limpa. 


A auxiliar administrativa Lourdes Vitall está consciente quanto à prevenção dessas doenças, pois tem como hábito diário fazer limpeza da residência com atenção aos pontos críticos para o mosquito. “Evito ter em casa plantas aquáticas, acúmulo de água, garrafas e latas expostas, pois tenho conhecimento do quanto isso é importante para evitar a proliferação do mosquito e, consequentemente, para termos mais saúde”.  conta Lourdes.

Lourdes Vitall cuidando do quintal de sua residência. (Foto: Arquivo pessoal)

AS FACETAS DA ZIKA E DA CHIKUNGUNYA

Entre os principais sintomas da Dengue, Chikungunya e Zika, estão a febre alta, dores musculares, dores de cabeça e até mesmo hemorragia, podendo levar à morte. Além disso, outro problema grave gerado pelo mesmo mosquito, em decorrência da Zika, é a microcefalia - uma condição neurológica rara que se caracteriza por anormalidades no crescimento do cérebro. A microcefalia afeta o bebê de mulheres gestantes - como explica a dona de casa Danila Quirino, que contraiu o vírus e, na sequência, o filho nasceu com a patologia.

A dona de casa conta que no sexto mês de gestação precisou fazer uma viagem de Aracaju para Alagoas, onde contraiu a Zika. Embora tenha sentido todos os sintomas da Dengue e tenha realizado exames para detecção da doença, não chegou a receber o resultado. O diagnóstico só veio através de uma ultrassonografia feita no momento do parto. E segundo Danila, o profissional agiu de forma insensata. "Fez pouco caso com a situação e disse que o bebê nasceria com uma lesão no cérebro ou morreria a poucos minutos após o parto", lembra.


“Nesse momento me senti totalmente desorientada e fragilizada, pois não houve nenhum procedimento no sentido de acolhimento dos profissionais. Senti falta da presença de um assistente social ou de um psicólogo, por exemplo,", ressalta a dona de casa.

Danila Quirino adquiriu Zika na gestação. (Foto: Angelica Mota)

A estudante de Jornalismo Mayara Ferreira, sentiu de perto as consequências e as sequelas causadas por outro vírus do Aedes Aegypti, a Chikungunya. A descoberta da doença aconteceu há dois anos. Ao acordar, viu que não estava bem, notou que o corpo estava cheio de manchas avermelhadas, fortes dores nas articulações e cansaço. A princípio acreditou que poderia ser excesso de exercício físico, mas como as dores se intensificaram, resolveu então procurar a Unidade Básica de Saúde, pelo SUS, onde foi diagnosticada e medicada.  

Mayara Ferreira ainda convive com as sequelas da doença. (Foto: Arquivo Pessoal)

Desse modo, a Secretaria Municipal da Saúde vem realizando ações preventivas nas unidades de saúde, no sentido de alertar a população.  Quando é encontrado o índice alto de infestação faz um bloqueio para indicar cada área que deve ser visitada pelos agentes de endemias, com o objetivo de impedir o avanço das doenças. Além disso, pede que as pessoas procurem atendimento médico, caso haja suspeita ou sintomas da doença para que se tenha o diagnóstico preciso.